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Bastardas

3 comentários:

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  2. Com muito pesar, declaro terminada a leitura de Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre - Tête-à-Tête, de Hazel Rowley. Pesar porque esse é um daqueles poucos livros que desejei que fossem infinitos. A ideia inicial era ler e participar do debate do grupo As Bastardas em janeiro, mas protelei as últimas cem páginas até o limite do possível. O livro é, basicamente, uma biografia do relacionamento entre Beauvoir e Sartre e deles com outras pessoas. Como toda boa narrativa, o texto oferece várias abordagens e leituras e escolhi o empoderamento de Beauvoir. E a impressão que ficou é que tudo era sobre ela.

    O livro começa com o interesse de Sartre por ela e termina com a morte dela. Ainda que envolva uma questão temporal e uma escolha narrativa, me pareceu que a autora usou a vivência de Beauvoir como fio condutor. E esse fio é, seguramente, o empoderamento dela. Num trecho do diário, logo no começo do livro, ela fala sobre ser livre. E de como isso a faria solitária. Depois temos todas aquelas caminhadas, que ela mesmo aponta como necessárias para a sanidade, o fato dela escolher um carro preto para se apaixonar e as constantes crises de choro, o quanto ela foi julgada após a publicação do Segundo Sexo, como os companheiros dela, em especial Algren, reagiram ao ter sua intimidade compartilhada. Os julgamentos sempre ligados ao fato dela ser mulher e nunca exclusivamente por suas escolhas.

    O mesmo não acontece com Sartre. Ele é respeitado, aceito e quando criticado é pelo seu trabalho. Não por quem ele é. Em nenhum momento, tive um lapso de simpatia por ele. Pelo trabalho dele sim, por ele? Não. (E isso me faz temer pela minha vida amorosa hahahha). O que me impressiona é como a Simone, muitas vezes, foi solidária com o machismo dele. A sororidade, por exemplo, não aparece muito. Ela critica as mulheres que são sustentadas e as sustenta. Gosto de imaginar ela dando uma resposta a Sartre por ele se comparar ao enfermeiro do bairro, sustentando e visitando suas pacientes.

    Outra coisa que me pegou também foi reação que eles receberam por seu trabalho das pessoas que estavam próximas a eles. Enquanto as mulheres se valiam do trabalho de Sartre para crescer, os homens criticavam Simone. Algren, por exemplo, disse que enquanto prostitutas fecham a porta, Simone as abria para o mundo.

    O livro nos oferece esse privilégio. Entender como Simone de Beuavoir se tornou Simone de Beauvoir. Esse vislumbre de crescimento é incrível. Alguém havia me dito que tinha chorado muito na leitura da morte de Sartre. Não chorei. Mas confesso que fiquei profundamente emocionada em perceber que, nesse momento, a 'família' reconheceu quem ela era, lhe deu uma cadeira na beira do túmulo e a permitiu chorar por seu amor. Esse é, se não me engano, o único momento em que ela pode viver essa relação sem nenhum tipo de competição. E sob os olhos do mundo. Foi uma linda forma de adeus. Todos deviam isso a ela.

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  3. Oi gente, tudo bem?

    Eu gostei da parte da biologia, mesmo que tenha me incomodado muito, acho que exatamente por isso. Sou da área de biológicas e muita coisa do que ela disse já é tida hoje em dia como ultrapassada, mas se contextualizarmos para a época e para antes da época dela, percebemos que a mulher era vista daquela forma.
    Acho que o intuito dela era justamente apontar os pré-conceitos, as teorias, para depois refutar.
    Eu estou procurando me questionar sobre as coisas que ela propõe, é incomodo, mas quantas vezes já não pensamos coisas do tipo: "menstruar é uma praga, odeio ser mulher nesses dias" e é inegável que as alterações hormonais e fisiológicas que as mulheres passam é muito mais intensa que a dos homens.
    No meu ponto de vista devemos ter em mente que o ser humano em si é um ser primitivo e que todas as nossas capacidades cognitivas, motoras e fisiológicas são fruto de um desenvolvimento baseado nas necessidades.
    Acho que a Simone discorreu sobre isso de uma forma que mostrava que com a evolução da ciência a mulher foi se mostrando mais importante na geração da vida e que com o passar do tempo e a mudança social o papel dela se igualou ao do homem na sociedade, mas que nós mulheres não conseguimos conquistar esse lugar, porque nos vemos acima de tudo como um gênero e não como ser.
    É tão comum ouvir mulheres com pensamentos machistas/sexistas, a mulher quase sempre usa o homem como referencial, ela não busca ser a melhor pessoa, mas uma pessoa melhor que o homem.
    Existem diferenças entre homem e mulher, como existem entre homens e homens e entre mulheres e mulheres, mas muitas vezes é mais fácil jogar a responsabilidade disso para outras pessoas, do que assumir que nós mesmas nos colocamos em situações de inferioridade, pelos nossos próprios medos e anseios.
    No livro Um teto todo seu a Virginia Woolf diz (parafraseando) "As mulheres querem igualdade, mas quando a sacola do mercado está pesada ela pede para o homem carregar" e nesse ponto pelo menos s Simone cutuca, diz que se as mulheres não se unirem elas sempre serão O segundo sexo.
    Na parte da psicanálise eu fiquei um pouco chocada, não que eu saiba alguma coisa do assunto, mas tive um a matéria na faculdade sobre Psicologia do desenvolvimento, o que em si é pouco e é bem simplório, mas nesse livro a Simone tentou simplificar demais os conceitos e por vezes até (pelo menos me pareceu) deturpar o seu significado, tornando apenas os argumentos dela válidos, alguém mais sentiu isso?

    Na parte do materialismo histórico concordei com algumas coisas, como por exemplo, historicamente a mulher está associada a procriação, ou mão de obra secundária, ou mão de obra mais fraca, ou como distração do trabalho por proporcionar sexo... e principalmente, que hoje em dia com os avanços tecnológicos e até mesmo sociais a mulher ocupa cargos que antes eram destinados aos homens.E que isso pode ser consequência de um desatrelamento desse status de procriadora, de mulher como instrumento sexual.

    Tenho sentimentos conflitantes quanto a essa primeira parte, cheguei a ter que deixar o livro sem ler um tempo e demorei uma semana para conseguir colocar em palavras (e não totalmente) o que eu senti, acho que me incomodou muito e isso é bom, porque me trouxe muita reflexão sobre como eu mesma vejo a mulher.

    Até mais!
    (Estou tentando escrever um post no blog, logo mais sai)
    http://devaneiospeloar.blogspot.com.br/

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